Participação de pessoas entre 55 anos e 65 que abriram negócio saiu de 7% em 2012 para 10,4% em 2016. Quase metade empreende por necessidade.
Rui Martins Rosado aos 62 anos montou sua própria startup. Com experiência de trabalho em grandes corporações na área comercial e em tecnologia da informação, Rui chegou a morar na Alemanha por conta do trabalho, mas sentiu o impacto da idade dentro das empresas.
“O mercado está fechado paras as pessoas mais experientes e isso de certa forma impulsiona o empreendedorismo”, diz. “Eu me sinto no auge da produtividade e posso dizer que tenho mais sonhos que meu filho”.
A população brasileira envelhece a cada ano. Nos últimos cinco anos, a população com 60 anos ou mais subiu de 25,4 milhões para 30,2 milhões — alta de 18,8%. A maior concentração de idosos foi registrada das regiões Sul e Sudeste, com 16,5% e 16%, respectivamente. No Brasil, essa faixa etária representa 14,6% conforme mostrou pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Um contingente que não quer ficar fora do mercado de trabalho. De acordo com dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a taxa de empreendedorismo na faixa de 50 a 59 anos foi a que mais cresceu em 13 anos (57%), seguida justamente pela faixa etária acima dos 60 anos. A participação de pessoas entre 55 anos e 65 que abriram um negócio cresceu de 7% em 2012 para 10,4% em 2016. Ainda segundo a pesquisa, 46,8% dos empreendedores com mais de 55 anos empreendem por necessidade.
“Temos de pensar na economia da longevidade, estamos vivendo mais e o modelo de aposentadoria que existia antes, aquele que a pessoa parava de trabalhar e ficava em casa já não existe mais”, avalia Vinicius Lages, diretor de administração e finanças do Sebrae. “As pessoas também perceberam que só o valor da aposentadoria não é suficiente para manter o padrão de vida e a tendência é que busquem alternativas para complementar a renda.”
Para não ficar fora do mercado, Martins colocou o plano B em ação e criou a IdCel, uma plataforma para monitoramento de atividades utilizando geolocalização e para o desenvolvimento de soluções provendo informações para os clientes. E os planos no param, para o mês de outubro está previsto o lançamento um sistema de gestão e administração de grupos de motociclistas entregadores, o Motoka.
Ainda, de acordo com pesquisas do Sebrae sobre o perfil do potencial empreendedor aposentado, ficou evidente a disposição para empreender entre aqueles que estão chegando à aposentadoria: 1 a cada 10 tem a intenção de abrir um negócio próprio nos próximos dois anos. Seja para aumentar a renda da família, seja para ocupar o tempo ou simplesmente para fazer algo que realmente gosta, para esses pesquisados, aposentadoria significa continuar trabalhando, e muito.
“Hoje faço exatamente aquilo que gosto e o principal: ajudo a fazer as pessoas felizes”, diz Claudio Gusela, diretor geral da NDVida, plataforma que ajuda empresas a melhorar a qualidade de vida e bem-estar de seus funcionários. Gusela continua trabalhando mesmo após a aposentadoria e não pretende parar tão cedo.
Executivo de multinacionais, o engenheiro elétrico buscou na experiência pessoal a motivação para criar seu próprio negócio. “Minha primeira esposa sofreu muito com depressão e cometeu o suicídio”, conta. “Foi uma fase muito difícil e eu contei com o apoio da empresa onde trabalhava para superar essa fase”.
Tanto Gusela como Martins participaram do InovAtiva Brasil, programa gratuito de aceleração em larga escala para negócios inovadores de qualquer setor e região do Brasil, realizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com execução da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI).
Mulheres
A pesquisa do Sebrae também mostra que a maior taxa de mulheres empreendedoras está nesta faixa etária: 61% dos empreendedores iniciais são mulheres.
Alice Leonardo Padilha aos 72 anos tem seu ateliê e trabalha como artesã. Ela começou a empreender depois da aposentadoria, aos 50 anos. “Eu me aposentei com 30 anos de trabalho, mas era muito jovem, comecei a ajudar meu filho que trabalhava com restauro de móveis antigos”, conta.
Aos poucos, Alice foi se ‘desgarrando’ e começou a produzir as suas próprias peças. Investiu em cursos e pesquisa, foi aprimorando a própria técnica. Usa madeira e objetos rústicos (palha de milho, fibras) em suas peças. “Pretendo colocar meus produtos na internet, mas no momento organizo reuniões e as vendas são realizadas em casa, no boca a boca.”
Parar? “Jamais! Tenho muita coisa para criar e experiências para compartilhar.”
Fonte: R7